A maravilhosa história da mulher que foi tirar um retrato

Joelson Gusson dirige Luisa Friese  em monólogo no qual vive a Mulher Maravilha e reflete sobre as mudanças atravessadas pelas mulheres nas últimas  décadas. Montagem segue em novembro para o Espaço Municipal Sergio Porto

Uma mulher chega a um estúdio. Está ali para renovar seu book fotográfico. Um tanto a contragosto, diga-se. “Depois me enchem de photoshop e vou parecer ter 20 anos. Podiam usar as fotos antigas”, reclama. Será ela uma diva do cinema? Um símbolo sexual? A musa que revolucionou comportamentos? Sim, todas elas. Ela é simplesmente a  Mulher Maravilha, personagem criada em 1941 por William Moulton Marston. Num intervalo entre as fotos, ela faz um balanço da própria trajetória e, com isso, reflete sobre as principais transformações pelas quais a mulher passou da Segunda Guerra aos dias de hoje. Essa reflexão é a linha mestra de “A maravilhosa história da mulher que foi tirar um retrato”, monólogo dirigido por Joelson Gusson, que volta a levar à cena discussões atuais, uma de suas marcas. A célebre heroína será vivida por Luisa Friese, que repete com o diretor a parceria de montagens como “Hotel Brasil” e “O animal que ronda”. Joelson assina a dramaturgia que tem ainda a colaboração de Cecília Ripoll. A montagem estreou no Sesc Tijuca e segue agora para o Espaço Municipal Sergio Porto, onde poderá ser assistida de 10 de novembro a 10 de dezembro.

A montagem expõe um retrato de uma mulher e suas facetas e nuances. E não se trata de uma mulher banal. É empoderada  (ela anota numa caderneta os poderes recém-descobertos), para usarmos um termo bem atual, mas que tem lá suas fragilidades. Leva toco do namorado e, fragilizada, telefona à sua terapeuta. Ao mesmo tempo que tem um quê de intelectual (cita Heráclito e Guimarães Rosa), está em sintonia com gadgets e demais ferramentas tecnológicas (“Fui obrigada a ter instagram”, reconhece, antes de postar uma selfie).

Ao refletir sobre a própria trajetória, ela faz um inventário das transformações pelas quais a mulher passou nesses quase 80 anos. E nada escapa ao seu olhar: fetichismo (“Todas as mulheres são sexualizadas”), machismo (“Mulher de pernas de fora e busto alto: tudo o que os homens mais temem”), a entrada da mulher no mercado de trabalho durante a 2ª Guerra (“As da classe média, pois as mulheres pobres sempre trabalharam”), insubordinação profissional (ela exerce a função de  secretária na Liga da Justiça), o fato de ser um produto (“Consumia e era consumida”) e uma importante mudança de paradigma na sua  trajetória: em 1972, uma revista a trouxe na capa com a manchete: “Mulher Maravilha para presidente” . A publicação era a americana “Ms”, e essa lembrança leva a personagem a abordar a tradição anglo-americana de associar a mulher ao estado civil, dividindo-as entre Mrs (casadas) ou Misses(solteiras). “A mulher não precisa da chancela do marido para existir”, defende ela.

Essas reflexões são eventualmente interrompidas pelo soar do telefone. Pelas suas respostas, sabemos que os assuntos são profissionais. Alguém corre perigo? Cada novo telefonema põe em xeque a identidade da personagem e o ofício por ela exercido. O espectador sai da função de mero observador (voyeur) para decifrar o enigma daquela personalidade a partir das pistas (falsas ou verdadeiras?) que ela lhe dá. E a partir desse jogo temos diante dos olhos mais do que um quebra-cabeça. Temos um rico painel com as principais conquistas sociais femininas e os obstáculos que ela precisou – e precisa ainda – vencer. Ela pode estar sozinha em cena, mas não nessa briga.

Serviço:

A maravilhosa história da mulher que foi tirar um retrato

Temporada: de 10 de novembro a 10 de dezembro

Dias e hora: sábado a segunda, às 19h30m

Local: Espaço Municipal Sergio Porto (R. Visconde Silva, s/ nº, Humaitá. Tel: 2535-3846. A bilheteria funciona de quarta a domingo, a partir das 17h)

Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)

  Capacidade: 20 lugares

Duração: 60 minutos

Classificação: Livre

Ficha técnica:

Idealização e performance: Luísa Friese

Direção, texto e cenografia: Joelson Gusson

Dramaturgismo: Cecília Ripoll

Assistente de direção e produtor executivo: Alan Pellegrino

Figurino: Marenice Alcântara

Adereços: Marcos Vinicius

Iluminação: Renato Machado

Trilha sonora: Ricardo Lee

Preparação vocal: Jorge Maia

Direção de movimento: Toni Rodrigues

Programação visual: Élio de Oliveira

Visagismo: Margo Margot

Colorista: César Marquez

Fotografia: Luciana Avellar

Direção de produção: Luisa Friese

Realização: Luisa Friese e Dragão Voador

 

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Um comentário em “A maravilhosa história da mulher que foi tirar um retrato

  • 12/11/2018 a 19:41
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    muito bom texto a partir de pesquisa bem elaborada.
    Parabéns porque merece sucesso certamente
    obrigado
    Ivan Lima

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