Ronaldo Câmara reúne em livro retratos de personagens icônicos do Brasil

A cantora Elis Regina é destaque no livro.

O ano era 1966, e Ronaldo Câmara, então repórter da TV Rio, topara o freela da “TV Guia”. Sua missão: uma matéria com Roberto Carlos  – muito popular entre os jovens. Ao entregar a matéria, ouviu do editor a pergunta: “E onde estão as fotos?”. Ronaldo não se fez de rogado. Providenciou uma rolleiflex e um filme de 12 poses e lá foi ele novamente ao encontro do Rei. Ele só não imaginava que a câmera viraria sua companheira inseparável. Uma extensão dele próprio. Suas lentes registraram todos os grandes nomes da vida cultural e social do Rio (e do Brasi). Pensou em Ídolos como Pelé, Chico Buarque, Chacrinha e Elis Regina? Ou em nomes como o da estilista Zuzu Angel, um símbolo contra o Regime Militar, e o de Carmen Mayrink Veiga, referência de elegância? Todos foram imortalizados por ele. E estão agora reunidos pela primeira vez num livro, cujo título não poderia ser mais do que apropriado: “O retratista – Uma fotobiografia (Antigo Leblon). A obra traz também textos de jornalistas que acompanharam de perto a trajetória do fotógrafo. São nomes como Anna Ramalho, Hildegard Angel, Joaquim Ferreira dos Santos, Walter Firmo e, claro, Ziraldo – constante em muitos trabalhos (e a quem é dedicado um capítulo inteiro). A obra chega às livrarias em setembro.

O compositor Chico Buarque é um dos retratados no livro de Ronaldo.

Está no livro a foto icônica (e não há adjetivo melhor) de Maysa com seus olhos-oceanos – que acabariam reproduzidos em capas de LPs e em outras publicações referentes à artista. Vemos também Vera Fischer em 1969, na Praia de Copacabana, fazendo seu primeiro passeio como Miss Brasil – uma tradição na revista “O Cruzeiro”, para a qual Ronaldo produziu muitas capas. Vindo para tempos recentes, o modelo Jesus Luz posando para seu primeiro book – que o faria cair nas graças de Madonna (mas essa é outra história).

Há também registros históricos como o que traz Mário Gomes, Pedro Aguinaga –tido por muitos  como o homem mais bonito do Brasil – e o cabeleireiro Silvinho. Ou o que une três de nossos grandes escritores: Ziraldo, Luís Fernando Veríssimo e Zuenir Ventura. O livro traz também algumas das mulheres mais lindas do país, em nus (ousados para a época) para a (hoje lendária) revista masculina “Fairplay”. E há também representantes de diferentes etnias indígenas como a Arara (Shawãndawa), do Alto Juruá (AM), fotografados para “O Cruzeiro”.

Mas voltemos ao episódio da “TV Guia”: Ronaldo, agora munido de uma rolleyflex e de um filme com 12 poses, foi à TV Rio fotografar o Rei. Um click apenas foi suficiente. “Só isso, bicho?”, devolveu o cantor com sua gíria típica. O retratista não desperdiçaria a viagem e, com as 11 poses restantes no filme, fotografaria outros ídolos da Jovem Guarda. As 12 fotos ficariam, para sua surpresa, extraordinárias. Ao vê-las, o dono da “Modinha popular” fez uma oferta pelo conjunto. Pagou mais do que Ronaldo ganhava como repórter. Nascia então o fotógrafo. Com o fim de “O Cruzeiro”, abriria, em 1970, seu primeiro estúdio.

Maria Bethânia também está presente na publicação.

E as primeiras fotos foram para o mercado publicitário, mais exatamente para lançamentos imobiliários. Esse tipo de trabalho seria uma constante na sua vida, a ponto de levá-lo a aprender a pilotar helicóptero. E tal predicado lhe renderia, além de fotos incríveis, uma participação num filme de James Bond. Isso mesmo. Em “007 contra o Foguete da Morte” (1979), o helicóptero que resgata o agente britânico nas Cataratas do Iguaçu era pilotado por… Ronaldo Câmara, ora!

Mas foi no estúdio que Ronaldo Câmara notabilizou-se como o (grande) retratista que (de fato) é — e o título do livro não poderia ser outro. Antes de as colunas sociais publicarem bastidores de estreias e eventos, a regra era outra: trazer retratos de nomes tradicionais da sociedade ou de artistas e empresários promissores nas suas áreas. E os retratos feitos por Ronaldo eram frequentes na coluna que Nina Chavs assinava no Caderno Ela, de O Globo. O entra-e-sai de personagens ilustres passou a ser uma constante no Ronaldo Câmara Estúdio.

Não só no estúdio como na vida desse craque da fotografia. Alguns entraram para o rol de amigos. Outros, como o compositor Cazuza e a jornalista Scarlet Moon, não estão mais por aqui, mas deixaram marcas em nós, brasileiros. Marcas indeléveis. Como as imagens eternizadas por esse mestre de nome Ronaldo Câmara.

Serviço:

Título: “O retratista – Uma fotobiografia”

Autor: Ronaldo Câmara (imagens), com a colaboração (textos) de nomes do nosso jornalismo

Editora: Antigo Leblon

Lançamento: setembro de 2019

Formato:  21 X 29cm

Número de páginas: 248

Preço: R$ 90

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