Uma opereta apimentada por Marinês

Cia Bagagem Ilimitada usa de canções imortalizadas pela cantora pernambucana para tratar de amor, tolerância e da força feminina em opereta que evoca a Cultura do Nordeste

“Se Deus é o verbo. O diabo é o riso” (Dito popular) 

Uma mulher colocou o país para dançar ao som de xotes e baiões, entre outros ritmos. Seu canto se espalhou por diferentes regiões do país desde sua entrada na cena musical, em fins dos anos 1950, e pelas décadas seguintes, dando a ela a alcunha de Rainha do Xaxado. A mulher em questão é a pernambucana Inês Caetano de Oliveira, popularmente conhecida como Marinês (1935-2007). Suas gravações, todas icônicas, de canções como “Bate coração” e “Por debaixo dos panos” influenciaram nomes das gerações vindouras como Maria Bethânia, Elba Ramalho e, mais recentemente, Lucy Alves. Vinte e quatro canções imortalizadas pela intérprete pernambucana inspiram “Furdunço do Fiofó do Judas – Uma opereta apimentada por Marinês”, novo espetáculo da Cia Bagagem Ilimitada. A montagem corrobora a proposta da companhia de levar à cena o resultado das pesquisas sobre temas populares. E, no caso, resulta num musical carregado de influências da Cultura Nordestina, cuja trama tem nas canções de Marinês, cheias duplo sentido, a peça-chave da narrativa. A montagem estreia dia 25 de julho na Sala Municipal Baden Powell, em Copacabana, ficando ali por duas semanas. 

Desde que surgiu, há quatro anos, a Bagagem Ilimitada tem como proposta a construção de uma dramaturgia que alie a pesquisa de linguagem à literatura e abarque a abordagem de temas que motivem seus integrantes. Assim foi com “Cotidianas”,  que marcou a estreia do grupo em 2015. Essa montagem, inspirada em livros de Heloísa Seixas e Edney Silvestre, tinha como um de seus temas a perda de memória. E tal proposta se manteve na websérie “Jurema home house”, criada pelo grupo, assim como nas encenações de “Chilenos ou franceses” (2016) e na de “O mar já não existe”(2017). O mínimo de elementos com o máximo de criatividade é um dos motes do grupo. 

A ideia por trás do “Furdunço do fiofó do Judas” era a de fazer um musical com canções genuinamente brasileiras. Só no Museu do Folclore, por exemplo, a pesquisa durou cinco meses ininterruptos. E tamanha imersão incluiu fontes de pesquisas diversas como poesia, a literatura de cordel, xilogravuras e danças típicas. E o encontro com o cancioneiro de Marinês veio muito bem a calhar. Uma decisão estava clara desde sempre: a de não levar à cena a vida da homenageada, mas a de usar de seu cancioneiro na costura da trama. 

E o público vai (re)conhecer clássicos como “Peba na pimenta” (João do Vale/Adelino Rivera/José Batista) — com que Marinês se projeta na cena musical; “Deu cupim no nosso amor”  (Rossini Pinto), do LP “Canção da fé”, de Marinês e Sua Gente; “Bate coração” e “Por debaixo dos panos”, ambas de Ceceu, sendo a última uma parceria com Antônio de Barros  – regravadas, nos anos 1980, respectivamente, por Elba Ramalho e Ney Matogrosso – a temas de autores surgidos dos anos 1960 como “Disparada” (Geraldo Vandré/Théo de Barros) e “Viramundo” (Gilberto Gil/Capinam). 

E um acervo musical tão rico pede uma roupagem à altura. E a entrada no processo criativo da diretora musical Deborah Cecília era a pitada que faltava à receita. Essa cantora lírica de origem baiana introduziu instrumentos como o cello e a sanfona, que, somados, dão ao repertório a dignidade que o nome e o cancioneiro de Marinês merecem.  Canções essas que se entrelaçam ao enredo como num bordado. Mas que trama é essa? 

Adelina, Antônia, Francisca e Gumercinda dão expediente no cabaré da pacata Fiofó do Judas. As razões que as levaram àquele lugar serão conhecidas pelo público no desenrolar da trama. A chegada de um forasteiro muda a rotina do lugar – para o bem e para o mal. O visitante é o sargento Malaquias de Jesus. Sua chegada à casa, onde terá guarida, traz benefícios (como acabar com as investidas policiais ao local) e, por outro lado, afeta as moças, que se deixam apaixonar pelo desconhecido. Elas só não desconfiam que o moço tem uma identidade secreta e que sua estada ali é motivada por questões que vão trazer à tona um antigo embate que envolve arquétipos como Deus e o Diabo. 

E o Coisa Ruim é o próprio forasteiro (e não há aqui spoiler). E Deus é, sim, mulher. Sua voz é a da veterana atriz Vilma Melo, ouvida de quando em quando, como a de um observador que expõe ao Diabo suas impressões sobre as reviravoltas do enredo. E, na medida que a trama se desenrola, o público tem diante de si embates que se entrelaçam. Além do de Deus e o Diabo, há o do visitante com suas anfitriãs. E qual das partes se sagrará vencedora? Só mesmo tomando assento na plateia para conhecer esse desfecho. E, claro, se encantar com o cancioneiro de Marinês. 

Serviço: 

Estreia: 25 de julho (quinta-feira)

Temporada: de 26 de julho a 04 de agosto

Dias e horários: sextas e sábados, às 20h; domingos, às 19h

Local: Local: Sala Municipal Baden Powell (Av. N. S. de Copacabana, 360, Copacabana. Tels: 2547-9147. A bilheteria funciona das 14h30m às 21h)

Valor do Ingresso: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)

Vendas pela internet na plataforma https://riocultura.superingresso.com.br

Duração: 90 minutos

Classificação: 16 anos

 

Ficha Técnica:

Dramaturgia – Cia Bagagem Ilimitada.

Direção – Jefferson Almeida.

Elenco: Jacyara de Carvalho,  Cilene Guedes, Paula Sholl, Pv Israel e  Jefferson Almeida

Participação sonora e afetiva de Vilma Melo (como a voz de Deus)

Assistente de Direção: Clara Equi

Direção Musical e preparação vocal: Deborah Cecília

Músico Ensaiador: Raphael Pipa

Iluminação: Felipe Antello.

Cenografia: Taisa Magalhães.

Figurinos: Arlete Rua.

Costureira: Rute Israel

Visagista: Paula Sholl

Direção de palco: James Simão

Consultoria de Dança Populares: Roberto Rodrigues

Técnico de som: Lucas Campelo

Assessoria de imprensa: Christovam de Chevalier

Direção de Produção: Martha Avelar

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