“ARACY” e a invisibilidade social das mulheres, no Sesc Tijuca

Inédito, segundo solo autoficcional de Flavia Milioni apresenta a busca de uma neta pela história de sua avó, esbarrando com as imposições do patriarcado estrutural. 

Poucas pessoas sabem, mas os sobrenomes possuem origem absolutamente oriunda dos pais e os demais antecessores masculinos – o que faz com que todas as mulheres sejam anuladas com o passar do tempo. Essa foi uma das descobertas de Flavia Milioni no processo criativo de “ARACY”, segundo solo ficcional dirigido e interpretado por ela que estreia dia 06 de Junho às 19h no Teatro II do Sesc Tijuca. Investigando a misteriosa história de sua avó materna através dos rastros deixados por ela, Flavia deparou-se com as consequências devastadoras do patriarcado na vida das mulheres. 

Aracy se matou em 1954, aos 26 anos de idade.Para lançar luz a uma história trágica e infelizmente não tão rara, a peça mergulha em temas comuns a todas as mulheres, como o machismo e o patriarcado estruturais e suas consequências. “É um trabalho que propõe ao público refletir sobre as mulheres que vieram antes de nós, e encontrar essas mulheres que somos ou que queremos ser. A peça evoca uma memória inventada, uma relação de avó e neta que nunca existiu, criando o resgate de um laço ancestral, que no fim, une todas nós”, pondera Flavia, que iniciou este processo quando ainda encenava seu solo anterior, “O QUADRO ou pequeno poema para o fim do mundo” (2016). 

Debruçada sobre uma história real e de foro íntimo,a montagem se vale da autoficção, que também foi objeto de pesquisa de Flavia em seu mestrado. “Um dos pilares deste tipo de teatro é o uso do relato e da confissão na cena. Também pode ser entendido como uma subversão da autobiografia, já que admite que a memória está diretamente associada à imaginação”, elucida. 

Evocando uma memória inventada, a relação de avó e neta que nunca existiu, o espetáculo cria um resgate de um laço ancestral, já que representa o apagamento existencial das mulheres na sociedade e apresenta um assunto tido como tabu ainda nos dias atuais. “Em escala mundial, o suicídio mata mais do que todos os homicídios, incluindo os mortos em guerras. Ninguém gosta de falar no assunto e, ao mesmo tempo, todo mundo conhece alguém que se matou. Por que não enfrentamos essa sombra? Os casos só aumentam e os números são alarmantes. Falar sobre isso é parte do processo de cura”, acredita a artista. 

No processo de investigação da história Flavia percorreu quatro cidades, descobrindo parentes que não conhecia e sentindo que, por fim, teve um encontro consigo mesma.  “O espetáculo evidencia que a luta das mulheres continuará enquanto formos oprimidas e excluídas. Hoje somos inundadas por termos como machismo, misoginia, sexismo, mansplaininggaslighting, sororidade. Nenhuma dessas palavras fazia parte do vocabulário de Aracy, mas ela sentiu na pele cada um de seus significados. Tocar na ferida através da historia de uma mulher específica é propor a reflexão sobre o machismo nas relações mais íntimas. Aracy está prestes a cair no esquecimento. Ela é cada uma de nós. Não podemos deixar que nos esqueçam”, encerra. 

SERVIÇO

ARACY” 

Temporada:

06 a 30 de junho 

Horários:

5ª feira a Domingo – 19h (**não haverá espetáculo nos dias 13, 14, 15 e 16 de Junho**)

 

Local:

Sesc Tijuca /Teatro II

Rua Barão de Mesquita, 539 – Tijuca

Telefone: (21) 3238-2164 / 2428 / 2139 

 

Ingressos:

R$ 30 (inteira) / R$ 15 (meia) / R$ 7,50 (Associados, apresentando a carteira do Sesc)

 

Duração: 50 minutos

Classificação: 14 anos 

 

FICHA TÉCNICA:

Texto, Direção e Atuação: Flavia Milioni

Codireção e Direção de Movimento: Natasha Corbelino

Cenário: Elsa Romero e Lia Maia

Figurino: Flavia Milioni

Iluminação: Lara Cunha e Fernanda Mantovani

Projeto Gráfico: Patricia Cividanes

Vídeo e Fotografia: Elisa Mendes

Mídias Sociais: Natália Balbino

Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Assessoria – Gisele Machado & Bruno Morais

Produção Executiva: Waleska Arêas

Direção de Produção: Flavia Milioni e Natasha Corbelino

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